quarta-feira, 2 de março de 2011

"Há um mundo a ser descoberto dentro de cada ser humano. Há um tesouro escondido nos escombros das pessoas que sofrem. Só os sensíveis e sábios os descobrem" (Augusto Cury).

Santo Agostinho e Descartes defendiam que o sentimento de liberdade e a vontade são uma coisa só. Isso permite entender que no ato de louvar a Deus, por exemplo, a pessoa está utilizando sua liberdade e sua vontade. Ela louva porque quer e porque canalizou sua liberdade para isso. Liberdade e Vontade parece ser a mesma coisa, ao levar nossas ações para um determinado fim. Mas, embora sejam faculdades distintas, causam-nos a impressão de ser uma coisa só. Como essas faculdades estão intimamente ligadas, não é verdade?

Ao longo do tempo, outros autores consagrados sustentaram a mesma afirmação de Agostinho e Descartes, considerando a liberdade como sendo um "dom divino", tão importante e decisivo, que, ao concedê-la, o Criador parece ter corrido o grande risco de ser desobedecido, uma vez que deixou o poder de decisão nas mãos do homem. Porém, ao tomar suas decisões, o ser humano se torna totalmente responsável por suas escolhas.

Isso nos recorda que, fazendo uso da nossa vontade e liberdade, nem sempre fazemos a opções corretas, optando por determinado caminho ou decisão. Algumas vezes estamos "comprometidos" com as experiências que fizemos no passado - e de tal forma e intensidade "amarrados" a elas - que elas interferem em nossas decisões presentes e futuras, por ser uma força muito grande em nossa vida. Concretamente, elas mexem com a nossa sensibilidade, nossa vontade, desviando-nos daquilo que inicialmente pensávamos. "Quase sempre faço o que não quero e deixo de fazer o bem que desejava", disse São Paulo (Romanos 7, 19).

Daniel Coleman, psiquiatra americano, publicou, em 1966, muitas descobertas da ciência a esse respeito, em seu livro "A Inteligência Emocional", sendo depois seguido por outros autores. Em seu livro, Coleman fornece informações deixando ver que as experiências pelas quais passamos são estímulos bioenergéticos originados nos órgãos sensoriais (aprendemos, via de regra, através do auxílio dos cinco sentidos), que chegam ao sistema nervoso central, através dos nervos, auxiliados pelos neurônios. Sabemos disso mais claramente hoje em dia. Ao serem levados ao cérebro, os estímulos são codificados e armazenados numa área específica, onde se interpretam e se diferenciam as informações provenientes de um mesmo órgão sensorial.

Os estudiosos e pesquisadores informam que em nosso cérebro existem cerca de um bilhãode neurônios que recebem os impulsos de nossas experiências. Essas experiências não ficam sozinhas, porque esses neurônios, ao "conversarem" entre si, produzem (pasmem!) perto de um trilhão de possíveis combinações. E essas informações, dizem os cientistas, não podem ser apagadas de nossa memória, depois de registradas. Não podem ser "deletadas" como fazemos no computador, com uma frase ou informação que não interessa. Uma vez que passamos por experiências, elas vão ser assimiladas pelo córtex cerebral e ficam ali produzindo seus frutos, bons ou desagradáveis. E vão ficar ali até que providenciemos os devidos acertos.

Estamos envolvidos em nosso dia-a-dia, procurando a felicidade, dando cabo de nossas emoções e, dessa forma, não nos atentamos para certas realidades. Resumidamente, vivemos nos extremos de dois polos, construídos durante nossas experiências de vida e mantidos dentro de nós. São nossas emoções... Elas são responsáveis pelo nosso modo de vida, nosso humor, nossas reações, nossas defesas. Talvez, por conta dessas emoções, não temos conseguido administrar com êxito a nossa vida, nossos relacionamentos e outras questões. E, ao nos atrapalharmos com nossos sentimentos e emoções, deixamos que situações desagradáveis nos aconteçam, causando fobias (medos), traumas, incertezas, comodismo, mas, também, sabedoria ao enfrentarmos e vencermos tais situações. Porém, ansiosos e sem saber corretamente o que está nos acontecendo, nos vemos impedimos de sentir a vida com mais naturalidade.

Importantíssima, também, é a observação colocada por Jesus, dizendo que devíamos observar, entre outras coisas, os pássaros, que não plantando e nem colhendo, têm a sua sobrevivência garantida pelo divino. Vivem com extrema simplicidade. "Olhai os pássaros", disse Jesus. "Eles não plantam e nem colhem. No entanto, o Senhor os alimenta". Não bastasse essa sugestão, Jesus continua: "Vede os lírios dos campos: eles não tecem e nem fiam. No entanto, nem Salomão se vestiu como um deles" (Mateus 6, 25-34). Simplificadamente, muitos de nós vivemos entre dois polos: da nossa miserabilidade, num profundo sentimento de culpa por não alcançarmos objetivos claros, e de um sentimento de angústia, de dúvida, de incertezas pelo futuro que desconhecemos.

Mas, como se manifestam essas forças que, "saindo da nossa mente", complicam nossa vida?

Os "culpados" são os nossos sentimentos e emoções. Ninguém vive sem eles! Eles são necessários, fazem parte e dão colorido à nossa vida. "A emoção é um campo de energia em contínuo estado de transformação. Produzimos centenas de emoções diárias. Elas se organizam, se desorganizam e se reorganizam, num processo contínuo e inevitável. O ideal seria que o círculo de transformação da emoção seguisse uma trajetória prazerosa, ou seja, que um sentimento de alegria se transformasse num sentimento de paz, que se transformasse numa reação de amor, que se transformasse numa experiência contemplativa. Mas, na realidade, o que ocorre na vida de cada ser humano é que a alegria se converte em ansiedade, o prazer em irritabilidade. Enfim, as emoções se alternam. Não é possível, para a natureza humana, ter uma emoção continuamente prazerosa. Não existe, como muitos pensam e admitem, um equilíbrio emocional. A emoção passa por inevitáveis ciclos diários. Entretanto, a emoção é mais saudável, quanto mais estável ela for e quanto mais perdurarem os sentimentos que alimentam o prazer e a serenidade" (trecho do livro "Treinando a emoção para ser feliz", de Augusto Cury).

Note que o autor utiliza palavras como "transformar a emoção"; usa o termo alegria, emoção saudável, estável, sentimentos de serenidade, dando, com esses vocábulos, a tônica daquilo que deveria se passar em nosso interior, refazendo-nos de nossas trapalhadas. A certa altura Augusto Cury sugere que, numa relação de amor, tivéssemos transformado nossas vivências numa experiência contemplativa... Mas, isso pode acontecer? Isso é possível para a natureza humana? Isso tem acontecido conosco? É esse o clima que habita em nós?

Essas são questões urgentes e cada um deve buscar as respostas dentro de si mesmo. Embora a idade teime em reduzir a intensidade do prazer, ao longo da vida tenho visto pessoas de idosas conservarem seu bom-humor, seu otimismo, seu sorriso, sua "jocosidade". Eles brincam e sonham com facilidade, passando-nos lições de vida e de sapiência. Aprendamos, pois, com eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário